terça-feira, 6 de janeiro de 2015

De pobres a reis

 Sempre soubera que a vida era difícil, contudo resolvi despir-me de minha coroa e viver entre os mansos de coração. Tal desprendimento não me custara, nada mais do que o desejo de minha própria alma, de me permitir, sentir as sensações da humildade. Me vestira como tal, para evitar qualquer discriminação entre o azul realeza de qual provinha minha essência, para aderir ao vermelho carmesim da humanidade.
Dava-me o direito de sentir as esperanças, os calores do sol, os ventos gélidos do inverno, os coloridos que me enchiam os olhos da primavera, mas, sobretudo aos tons enferrujados do outono. Dei a minha consciência a liberdade de se expressar, a necessidade de fustigar, acima de tudo a propriedade de absorver o mais divino que a humanidade têm, a capacidade de se renovar.
Provido de tamanhas sensações, soubera que a realeza me chamava. Podia ser o melhor das massas, a divindade da nobreza. O vermelho e o branco de meu manto não eram sinais de alegria, mas a forma humanizada de minha divinização na terra. Os dourados de minhas vestes tornaram-se referência de minha condição de riqueza pela vastidão que se passaria, o cetro na mão direita representava a ordem e a minha vontade de julgo e o globo estrelado em minha mão esquerda dizia de meu dever de governar. Contudo, era a coroa que mais pesava, seu estandarte estrelado e cravejados de pedras diziam a todos a minha soberanidade.
Governaria para todos e seria um rei por todos, mas percebi com o tempo que meu estandarte e meu cetro, afastavam de mim a humanidade que adquiria. Não era tratado como amigo ou conhecido, mas como alguém a ser temido.
Afastei-me da claridade e me vi na escuridão. Fiz julgamentos errados, acusações infames, vendi-me ao diabo em busca de mais poder.
Poder é algo fétido do qual me despojei. Vi com clareza o quão sujo me tonara e o quanto me afastara da divindade que me era concedida.
A era dos nobres acabou, findei meu reinado com tristeza e solidão. Puni-me para remediar as mazelas que causara. Me prendi as masmorras da escravidão.
Abri meus olhos e vi o sol, então soubera o sabor da liberdade.

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