Vivemos em sociedade e isto é um fato
sabido e vivido por todos. Somos condicionados e ensinados a viver
assim, e quem não adere a tal dogmatismo será considerado um
desajustado social ou então um ermitão do deserto.
Os seres humanos por mais pensante que
seja, necessita de outrem. Isso é bíblico e encontra-se nas
escrituras sagradas, para quem possa pensar que esteja esse que vos
fala errado. Deus sentia-se só e com razão, transformou sombras em
luz, separou a terra do firmamento, da terra fez que brotassem a
vegetação, fez que nascesse frutos e flores, para usufruir desses
frutos e flores criou os animais e lhes inflou vida, e do barro criou
o rei desses animais, o mais importante, o mais pensante e o mais
transformador de todos; o homem e o colocou neste mundo maravilhoso
para que pudesse contemplar a maestria de seus poderes divinos. Mas
Deus nos criou com um defeito: a incapacidade de ouvi-lo. Por mais
sutil que fosse, o homem não era, ou é, capaz de escutar os
desabafos de Deus, apenas pequenas partes do que o Altíssimo
falava, que soaram como ordens ou proibições. Não que não o tenha
Deus feito. O tempo era longo e as conversar curtas e assim o homem
sentiu-se sozinho. Foi neste momento que Deus percebeu o defeito
humano e para reparar este erro criou da costela do homem a
exuberante mulher. Esta foi criada com consciência divina e de uma
sensibilidade cuja era de agrado de Deus. O homem força divina e a
mulher sensibilidade divina, perfeito. Mas Deus tem que ser superior
e deu aos dois, Adão e Eva, o paraíso, para que cuidassem, zelassem
e multiplicassem sem nunca perecer, entretanto havia uma condição;
era expressamente proibido o consumo de um fruto vermelho, de uma
árvore de médio porte no centro do Paraíso. Ela era destinada
unicamente ao Poderosíssimo Senhor da Criação.
Deus já tentara uma vez criar alguém
para conversar, este o ouvia bem, compreendia as angústias divinas,
se compadeceu das dores de Deus e dele apenas uma coisa queria: o
próprio poder de Deus. Lúcifer até tentou, desobedeceu as ordens e
se saboreou da glória da desordem, porém Deus não teve outra
escolha; bani-lo para as trevas como consequência de tamanha
confusão. O poder de Deus era imenso, mas compartilhou um pouco com
Lúcifer, entre eles o que mais gosta de usar: a persuasão. O diabo
arrebatou metade da ordem celeste e vendo que o Santíssimo havia
criado novos companheiros e um mundo novo resolveu tomar partido da
situação. Esgueirando-se nas sombras, ouviu a proibição divina e
resolveu assim causar nova desordem, onde talvez fosse capaz de
governar. Com poderes nefastos, adormeceu a Deus e incitou à Eva
para que provasse do fruto proibido e foi esta a danação do homem.
Deixar-se levar outrem, mesmo sabendo o que é errado e com isso
nasceu o primeiro mandamento da sociedade, unir-se em prol de um bem
comum.
Deus irritou-se. Acredito que nem tanto
pela desobediência humana mas por deixar-se enganar por Lúcifer e
não podia deixar tal ato passar ileso e com isso o homem aprendeu
sua primeira lição de Direito: para toda ação há uma
consequência; se for boa, bons resultados, se forem ruins, atitudes
dolorosas. E assim fez Deus, puniu Adão e Eva à mortalidade, ao
trabalho para seu sustento e os expulsou do Paraíso. Creio que Deus
também tenha se punido e por uma segunda vez e tenha percebido que
nem tudo que se cria é uma benção, há contudo algo ainda maior
que talvez ele mesmo tenha sentido. Ao ver que Lúcifer tenha se
voltado ainda mais contra ele, sabia que um castigo severo poderia
ter consequências ainda piores e abrandou. Fez com que Adão e Eva
encontrasse meios de sobreviver as turbulências e que deveriam
agradecer por isso, e com tudo isso aprendemos o dogmatismo e a
gratidão.
Adão e Eva se multiplicaram, seus
filhos se multiplicaram e assim nasceu a sociedade. Homem feito para
se multiplicar, transformar e aprender a conviver entre si. Até
poderia ser mágico, mas algo na escuridão se esgueirava, e o
próprio Diabo havia descoberto uma maneira de escapar de sua
reclusão. Não que Deus não soubesse, apenas tomou atitudes
paternas para filhos diferentes e aqui se faz jus ao ditado: Deus dá
o frio conforme o cobertor.
Só Lúcifer sabia do poder que Deus
exercia, pois fora dotado de uma parte deste poder e o que me leva
acreditar que o poder pode corromper, e então por que tamanho poder
não corrompera a Deus? Muitos podem dizer apenas porque ele é Deus,
eu direi que há algo em Deus que o transforma especial: a
humanidade.
Conforme a expansão do povo e a
cultuação a outras divindades, Deus podia ter nos aniquilado, mas
não, escolheu alguns eleitos que já compartilhavam de uma
sensibilidade, lhes prometeu uma nova terra, uma parte do Paraíso,
pois sabia da nossa capacidade, a humanidade nos tornava fracos e
impotentes, mas ao mesmo tempo éramos e somos capazes de superar
desafios; desde que seguíssemos dez mandamentos. Oras, haviam se
passados séculos, eras e sabíamos das consequências da
desobediência, foi o que pensou Deus, mas não sabia ele que a
capacidade de esquecer era algo que o próprio Lúcifer nos dera como
dom. Deixar nas sombras aquilo que não se deve ser lembrado. E
novamente fomos punidos, pelo Dilúvio. As águas nos afogaram como
fonte de renovação e foi escolhido apenas Noé e sua família para
uma nova reestruturação. E assim se fez. Mas havia algo que só o
próprio Diabo aprendera: esperar nas sombras, coisa que faz com
maestria e paciência e quando tudo parecia caminhar a um bom caminho
o caos se fez. Deus tornou-se um objeto de barganha, ícone de
desculpas aos erros e tudo aquilo que havia combatido estava de novo
aos seus pés. No entanto ele é Deus e se cansara de punir a
humanidade e puniu a si mesmo, entregando o fruto de sua própria
essência para redimir os pecados da humanidade. Entretanto este ser
humano etério descobriu que a desobediência fazia parte do que
chamamos de sociedade e que não era de punições ou salvadores que
precisávamos e sim da compreensão de nós mesmo.
Com isso o homem se expandiu, fez
guerras em nome de Deus sugeridas pelo Diabo, combateu o próprio
Demônio jorrando sangue de inocentes, acabamos com a peste e
profecias foram profetizadas. Achamos um jeito de nos apaziguarmos e
evitamos de que nos matássemos pelo derramamento de sangue. Mas o
ardil sempre esteve por lá, no sorriso mascarado, nas palavras doces
e encantadas, procurando uma nova maneira de atacar. Sua estratégia
principal sempre foi a paciência e como um calculista frio
premeditou cada passo. Esteve muito tempo por perto, chegando ao
passo de conhecer cada fraqueza humano e onde nossa sustentação
pode ser abalada. Incentivou o aprimoramento do pensamento humano,
ajudou no desenvolvimento social, apoiou ao capitalismo, socialismo e
ao fascismo e escolheu ao capital como fonte de adoração. As mentes
evoluíram e com elas deu-se uma guerra fria. Não aquela entre a
extinta União Soviética e os Estados Unidos, mas em Bem e o Mal.
Pode parecer louco, mas como disse antes, Lúcifer aprendeu a
esperar, aprendeu como ser derrotado, viveu nas sombras para um
ataque. Descobriu com o seu julgador como são as táticas de sua
vitória e aquilo que o Filho de Deus descobriu ele também tomou
ciência.
Neste momento deve me chamar de
fanático, Anti-Cristo ou de generes,
mas não é isso. Resolvi olhar pelos olhos do outro e antecipar –
ou tentar – o que nos reserva o futuro. Crescemos, desenvolvemos
coisas maravilhosas para nosso bem, para gozarmos de um prazer
ilusório.
Destruímos
a terra para torná-la áspera e cinzenta, enchemos-la de cimento para
que a mobilidade se desse. Matamos as árvores para colocarmos em seu
lugar aços e concretos resistentes ao tempo, do qual chamaremos de
lar. Aos animais nós os domesticamos e aqueles que não se curvam
aos nossos desejos prendemos ou matamos para provar nossa
superioridade e mostrar a que propósito Deus nos deu inteligência.
Aos rios e mares degradamos, sujamos com nossas boas intenções o
que sempre nos sustentou. Mas o pior de tudo, a mais vil vilania o
homem fez por si, se bestializou.
A
princípio era uma besta pensante, que destruía a tudo pelo
confronto, mas a bestialidade limites ultrapassou. Deixamos que a
vaidade e o simples fato de termos nos desenvolvido exponencialmente
tomasse conta de nosso ego. Descobrimos como tornar nossa mortalidade
em algo distante e nos autointitulamos Deus. Vencemos a cada dia
doenças do corpo, criamos remédios para nossos males, procuramos
jeitos de vencer a morte esquecendo dos desígnios de Deus. A todo
desenvolvimento intelectual que era doloroso, tornou-se habitual,
modismo, deixamos de pensar. O Bem em prol do Mal.
Viramos
deuses de doenças que criamos e não sabemos curar.
Desenvolvemos-nos como criadores de criações incontroláveis e
devastadoras e a nossa inteligência emburreceu. Agarramos ao último
fio de esperança e nos lembramos das profecias. O mundo se acabará
em fogo. Pois é, está acontecendo e não por um fogo divino como
Sodoma e Gomorra. Destruímos o pouco Paraíso que nos foi dado e
agora não é Deus nos punindo, é a consequência do que estragamos;
é a nossa própria falsa divindade se voltando contra nós.
E se
perguntarem, qual o papel de Deus nisso tudo? Responderei: nenhum,
ele aprendeu com o filho que sacrificou que precisamos consertar as
coisas a nossa maneira e para isso rogamos ao Céu pedindo solução.
O Grandíssimo até interviria, mas deixou que tentássemos nos
resolver, ou melhor tirou sua mais perfeita criação das sombras e
deu-lhe um breve instante de pleno poder. Novas guerras se lançaram,
a intolerância voltou a moda, pessoas se matam, as águas secaram,
religiosos se lançam em ofensas contra irmãos. E então papéis se
inverteram, o Mal em favor do Bem. Lúcifer desistiu de ser dono de
tamanha desordem e devolveu o trono a quem tem o verdadeiro poder,
quem com paciência tudo arrumará. Acredito que Deus esteja feliz
com Lúcifer, pois ambos aprenderam algo. Lúcifer não pode controlar
tamanho poder, e Deus que os ouvidos humanos deveriam ter sido
melhorados.
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