Não sei o que motiva a humanidade
muito menos a um ser em especial, porém acredito que aos cães uma
vasilha grande de água, uma maior ainda de comida e um pouco de
atenção seriam suficientes para eles, mas para Sansão não.
Você pode pensar e não estaria
errado e pode acreditar, ele é um cão. Não é qualquer cão. Ele
não late para qualquer coisa, ele não rosna para qualquer um, mas
se interessa por qualquer assunto humano, não como um expectador e
sim como um filósofo aristosocrático platoniano e já vai entender
o que digo.
Ganhei este labrador há quatro anos.
Ele pertencia a um eletricista conhecido meu, do qual necessitei de
seus préstimos. Você que me conhece ou está prestes me conhecer
deve ter isso em mente: detesto trabalhos manuais, serviços pesados
e tenho repulsão magnética a trabalhos elétricos, é como água e
óleo, ou melhor nitroglicerina e agitação.
Sempre tive a sorte de ganhar cachorros
(e pode-se dizer que minha vida basicamente depende de um) e antes de
Sansão entrar em minha vida eu tinha um lindo dálmata chamado Rif,
qu tinha status de irmão mais novo e guarda costas de minha
mãe. Esta excelsiar senhora resolveu trocar a luminária em pleno
início de dezembro, pois os homens sabem como são mulheres quando
decidem fazer algo então liguei para meu colega. Como ele trabalha
no aeroporto e seus préstimos eletricisticos só em seus dias de
folga ou após seu horário de trabalho, marcamos par que viesse no
dia 08 de dezembro, pois onde moro é feriado. Combinado o dia e o
horário era só aguardar para a troca da luminária da cozinha e
assim aconteceu. Durante a conversa para troca da luminária ele me
perguntou sobre cachorros e se eu gostava destes maravilhosos animais
e eu disse que sim. Ele havia comentado que nunca tinha sido criado
com cachorros e que tinha um, mas que ele e a mulher não tinham
tempo para o bichano e nem trato para o tal e assim surge a pergunta
que mudaria minha vida. Você não quer o labrador para você? Não
me fiz de rogado e após o término do serviço fui com ele até a
casa dele para buscar o Sansão.
Quando me viu parecia que ele sabia o
que ia acontecer, correu até mim e me abraçou daquele jeito que só
ele sabe fazer. Eu em toda a minha vida com animais nunca só tinha
visto aquele olhar duas vezes e esta seria a terceira e eu sabia que
algo de especial iria acontecer. E assim foi e assim o é. Ele tinha
oito meses e andar com ele na rua era como se um mundo se abrisse ao
seu olhar, tudo era novidade e para ele tudo sempre será. A
convivencia com pessoas te dando atenção e com outro cachorro era
como se o universo não fosse seu limite. Tudo é maravilhoso ao seu
olhar. Em um dos poucos momentos em que parava para observar o mundo
ao meu redor, o peguei me olhando e sorrindo para mim. Incrível! Seu
sorriso era só por estar me observando e é um hábito que ele
sempre tem. Não tem que acontecer algo especial para que possa
sorrir e não há tempo ruim que o faça perder o sorriso. Estar
comigo é um festa, conviver com a família uma explosão de
felicidade.
Sua capacidade de alegrar no momento
de tristeza é única. É capaz de ficar horas observando e esperar o
momento mais propício para chegar sorrateiro e lascar aquela língua
molhada em minha mão ou no meu rosto enquanto estou dormindo. Seu ar
brincalhão está sempre lá mesmo quando faz aquela cara de doente,
ou quando estamos doentes é inteligente o bastante de ficar deitado
ao nosso lado.
Como todo cachorro ele apronta das
suas e como uma criança que sabe que faz coisa errada abaixa a
orelhas, faz aquela cara de cachorro abandonado, amolece meu coração
e sorri, como que dizendo eu amo você.
O amor deste cão é incondicional, é
transcendental que percebe-se a ofensa em seus olhos quando digo que
é filho de uma cadela. Toda a brutalidade de sua raça é compensada
pela enorme gratidão e doçura que vemos em seus olhos. Para ele
bastar estar, basta lhe tocar o pelo, beijar a ponta de seu nariz
molhado (coisa que adora), lhe dar um abraço apertado e fazer
brincadeira que fazemos com crianças pequenas para seus dois
pequenos universos irradiarem.
Não lhe basta apenas água, comida e
uma coçadinha na barriga, ele precisa conversar em silêncio,
participar com latidos nas conversas adultas e até tomar partido em
uma discussão como um mestre filósofo. Uma simples abelha o diverte
é capaz de ficar horas olhando formigas caminharem a sua frente e
até se abster da presença das pombas no quintal comendo sua comida.
Seu único desejo é de estar, bem estar.
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