sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sansão

Não sei o que motiva a humanidade muito menos a um ser em especial, porém acredito que aos cães uma vasilha grande de água, uma maior ainda de comida e um pouco de atenção seriam suficientes para eles, mas para Sansão não.
Você pode pensar e não estaria errado e pode acreditar, ele é um cão. Não é qualquer cão. Ele não late para qualquer coisa, ele não rosna para qualquer um, mas se interessa por qualquer assunto humano, não como um expectador e sim como um filósofo aristosocrático platoniano e já vai entender o que digo.
Ganhei este labrador há quatro anos. Ele pertencia a um eletricista conhecido meu, do qual necessitei de seus préstimos. Você que me conhece ou está prestes me conhecer deve ter isso em mente: detesto trabalhos manuais, serviços pesados e tenho repulsão magnética a trabalhos elétricos, é como água e óleo, ou melhor nitroglicerina e agitação.
Sempre tive a sorte de ganhar cachorros (e pode-se dizer que minha vida basicamente depende de um) e antes de Sansão entrar em minha vida eu tinha um lindo dálmata chamado Rif, qu tinha status de irmão mais novo e guarda costas de minha mãe. Esta excelsiar senhora resolveu trocar a luminária em pleno início de dezembro, pois os homens sabem como são mulheres quando decidem fazer algo então liguei para meu colega. Como ele trabalha no aeroporto e seus préstimos eletricisticos só em seus dias de folga ou após seu horário de trabalho, marcamos par que viesse no dia 08 de dezembro, pois onde moro é feriado. Combinado o dia e o horário era só aguardar para a troca da luminária da cozinha e assim aconteceu. Durante a conversa para troca da luminária ele me perguntou sobre cachorros e se eu gostava destes maravilhosos animais e eu disse que sim. Ele havia comentado que nunca tinha sido criado com cachorros e que tinha um, mas que ele e a mulher não tinham tempo para o bichano e nem trato para o tal e assim surge a pergunta que mudaria minha vida. Você não quer o labrador para você? Não me fiz de rogado e após o término do serviço fui com ele até a casa dele para buscar o Sansão.
Quando me viu parecia que ele sabia o que ia acontecer, correu até mim e me abraçou daquele jeito que só ele sabe fazer. Eu em toda a minha vida com animais nunca só tinha visto aquele olhar duas vezes e esta seria a terceira e eu sabia que algo de especial iria acontecer. E assim foi e assim o é. Ele tinha oito meses e andar com ele na rua era como se um mundo se abrisse ao seu olhar, tudo era novidade e para ele tudo sempre será. A convivencia com pessoas te dando atenção e com outro cachorro era como se o universo não fosse seu limite. Tudo é maravilhoso ao seu olhar. Em um dos poucos momentos em que parava para observar o mundo ao meu redor, o peguei me olhando e sorrindo para mim. Incrível! Seu sorriso era só por estar me observando e é um hábito que ele sempre tem. Não tem que acontecer algo especial para que possa sorrir e não há tempo ruim que o faça perder o sorriso. Estar comigo é um festa, conviver com a família uma explosão de felicidade.
Sua capacidade de alegrar no momento de tristeza é única. É capaz de ficar horas observando e esperar o momento mais propício para chegar sorrateiro e lascar aquela língua molhada em minha mão ou no meu rosto enquanto estou dormindo. Seu ar brincalhão está sempre lá mesmo quando faz aquela cara de doente, ou quando estamos doentes é inteligente o bastante de ficar deitado ao nosso lado.
Como todo cachorro ele apronta das suas e como uma criança que sabe que faz coisa errada abaixa a orelhas, faz aquela cara de cachorro abandonado, amolece meu coração e sorri, como que dizendo eu amo você.
O amor deste cão é incondicional, é transcendental que percebe-se a ofensa em seus olhos quando digo que é filho de uma cadela. Toda a brutalidade de sua raça é compensada pela enorme gratidão e doçura que vemos em seus olhos. Para ele bastar estar, basta lhe tocar o pelo, beijar a ponta de seu nariz molhado (coisa que adora), lhe dar um abraço apertado e fazer brincadeira que fazemos com crianças pequenas para seus dois pequenos universos irradiarem.
Não lhe basta apenas água, comida e uma coçadinha na barriga, ele precisa conversar em silêncio, participar com latidos nas conversas adultas e até tomar partido em uma discussão como um mestre filósofo. Uma simples abelha o diverte é capaz de ficar horas olhando formigas caminharem a sua frente e até se abster da presença das pombas no quintal comendo sua comida. Seu único desejo é de estar, bem estar.



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